Lançamento e pausa para conversa no Distrito Cruzeiro dos Peixotos
- ciclopoetica
- 8 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de jul. de 2022

Aconteceu no do dia 02\07\2022 uma pausa para conversa com a comunidade do Distrito Cruzeiro dos Peixotos. Não sei vocês. Sempre que me preparo para um encontro procuro imaginar quais palavras, imagens e assuntos poderiam ser profícuos para esses momentos. Procuro intuir a partir das minhas experiências e observações do mundo e das pessoas o que, realmente, nos falta. Então, perguntas muito simples e complexas começam a borbulhar na minha cabecinha que não cessa de pensar em como deixar o nosso mundo mais bonito e provocar uma conversa que seja suave e, ao mesmo tempo, profunda.
Do que sentimos falta? O que nos torna realmente humanos? Como resgatar nossa humanidade com simplicidade e beleza?.... E por aí vai. Uma enxurrada de perguntas não cessa até o momento em que uma intuição bastante inspiradora ilumina minha mente e acalma o meu coração. A certeza e confiança de que devo seguir essa intuição surge, então, de uma sensação e entusiasmo profundo. É isso!

A intuição que surgiu antes desse encontro foi a simples e encantadora imagem do beija flor. No meu livro ele está na capa como um anfitrião cativante convidando o leitor e, também, a autora a pausar. O beija-flor no lugar onde ele está, na capa, foi pensado estrategicamente como elemento de beleza para que possamos captar e absorver as características do seu comportamento. Porque o beija-flor só parece apressadinho. Com seu jeitinho todo cativante ele vai lá, beija sua flor e pausa. Ora no ar, ora no galho de uma árvore para poder, simplesmente, descansar. Ele volta lá, beija sua flor e pausa. Ele não continua seu beijo enquanto está esbaforido, ele deve saber que isso ofende as flores, que prezam pela calma, harmonia, equilíbrio e beijo doce.
Enfim, diante dessa certeza me imbui de fé, esforço, memória, entusiasmo e direcionamento. Assim fomos, eu e minha equipe para uma pausa de conversas com pessoas que pensávamos ser “desconhecidas”. O encontro foi composto por mulheres, sábias senhoras, avós acolhedoras, crianças, poucos homens, adolescentes, mães jovens e cães.
Então comecei com uma breve aterrissagem. Uma meditação para trazer a mente para o momento presente. Inspirando e expirando com os olhos fechados. Apenas uma breve pausa para sentir o ar, a respiração, o elemento que constitui nosso espírito, vida e existência.
Então pausamos e falei do beija-flor, Contei sua história e minha intenção. Falei, assim, sobre a necessidade de pausar como ele quer nos ensinar. Falei do quintal onde habita a protagonista das imagens do meu livro, a jabuticabeira. Falei de primaveras, dores, angústias, Buda, ciclos de vida e morte.
Depois disso, o desvelamento de pessoas com uma grandeza de alma, com uma sabedoria toda especial oriunda de quintal. Descobri ali mulheres e escritoras “quintalistas”. Mulheres que se faz e se refaz a partir do reencontro consigo mesmas nos seus quintais. Para elas o quintal não é apenas aquele lugar da casa onde se amontoa as quinquilharias velhas que não cabem mais na sala de visita. Mas um lugar onde podemos nos voltar para o encontro e conversa consigo mesmo. O quintal dessas mulheres, na verdade, é um espaço de visitantes, de conversas introvertidas e extrovertidas.
A mensagem do beija-flor foi muito bem aceita e compreendida. Todos estávamos de comum acordo com a necessidade de saber pausar. Dosar trabalho e pausa, num ritmo constante de trabalho e pausa, trabalho e pausa, como sugeriu a D. Edna. Trabalho e pausa assim como faz o beija-flor. Sempre lembrando desse tão necessário remédio para a alma e para o corpo que agradece alegremente.
A prosa foi tão edificante e acolhedora que não terminamos ali. Sentimos vontade de conhecer pelo menos um desses quintais. Assim, saímos do salão e passamos pelo relicário do senhor João Bosco que não estava lá. Na procura da casa da D. Edna encontramos primeiro a Escritora Dolores Mendes que nos convidou para dedicar seu livro, "Ventos e Borboletas", e nos levou para dentro de seu quintal, nos apresentou seu cuidado diário com a grama, plantas e lindas kalachoes. Além do livro publicado, nos doou livros antigos, mas atualíssimos, de filosofia. Seguimos para a casa da dona Edna, não apenas para pegar esterco de galinha, mas também para colher limão china e ouvir um pouco mais de suas histórias. Quanto acolhimento!
Depois fomos presenteados com um lindo pôr-do-sol. Lindo é pouco. Mágico pôr-do-sol. Paramos, contemplamos, filmamos e fotografamos. Ainda tínhamos mais um livro para entregar. Fomos então entregar o livro para o Senhor Santo, o senhorzinho do pomar de mexericas que mora sozinho.
Só sei que foi assim... Voltamos nós três, cheios de histórias, livros, causos, histórias, limões, húmus e vivências.
Certa vez, ouvi de uma cantadeira de histórias que quando ouvimos as histórias de outras pessoas nós começamos a amar essas pessoas e, acrescento, passamos também a amar os seus lugares, seus espaços, seus quintais. Escrevendo essa história estou sentindo uma profunda gratidão por esse Distrito chamado Cruzeiro dos Peixotos e as suas quintalistas.
Salve o dia 02 de julho de 2022. Salve o Distrito Cruzeiro dos Peixotos. Salve o Ciclo. Salve os beija-flores.
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